O AVC afeta 15 milhões de pessoas anualmente e inovações no tratamento como o uso de IA podem trazer esperança para pacientes
O Acidente vascular cerebral (AVC) afeta 15 milhões de pessoas ao redor do mundo todos os anos. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, estima-se que uma em cada quatro pessoas com mais de 35 anos sofrerá um AVC, popularmente conhecido como derrame, em algum momento da vida. Cerca de um terço dessas pessoas poderá vir a óbito e, pelo menos, metade delas ficará com incapacidade permanente ou crônica em consequência da doença.
Diante desse problema, pesquisadores continuam estudando maneiras de ajudar os pacientes tanto no momento de um acidente vascular cerebral quanto em tratamentos para a recuperação das funções que possam ter sido prejudicadas. O médico doutor W. Chris Fox. neurocirurgião na Mayo Clinic em Jacksonville, Flórida esclarece cinco informações importantes que todos precisam saber em relação a um Acidente Vascular Cerebral
Como podemos reconhecer um AVC?
O AVC, basicamente, é um termo genérico para uma lesão cerebral causada por um problema nos vasos sanguíneos do cérebro. Existem dois tipos principais de AVC. No AVC isquêmico, o fluxo sanguíneo em uma artéria cerebral é bloqueado, e a parte do cérebro que era alimentada por essa artéria fica lesionada devido à falta de oxigênio e nutrientes. Quanto mais tempo passa sem o restabelecimento do fluxo, mais severa é a lesão. O AVC hemorrágico, por outro lado, ocorre quando há sangramento no cérebro devido ao rompimento de um vaso sanguíneo, como em casos de aneurisma ou malformação arteriovenosa, afetando significativamente a função cerebral. Cerca de 85% dos acidentes vasculares cerebrais são isquêmicos e 15-20% são episódios hemorrágicos de sangramento no nível do cérebro.
O tempo de atendimento em um acidente vascular cerebral (AVC) é um dos fatores mais importantes para evitar complicações graves, como lesões permanentes ou até o óbito. Por isso, é essencial chegar ao pronto-socorro o mais rápido possível para receber tratamento e tentar reverter os efeitos. No entanto, nem todos são capazes de identificar os sinais de um AVC de maneira, o que pode ser um obstáculo para a assistência imediata. Alguns sinais são dor intensa na cabeça, fraqueza em um lado do rosto, vertigem, sensação de peso ou dificuldade para levantar um dos braços, perda de visão, fala arrastada e dificuldade de comunicação ou a total incapacidade dela.
Pessoas jovens e crianças podem sofrer um AVC?
Embora seja mais frequente em pacientes de idade mais avançada, o AVC não é exclusivo de pessoas idosas. Jovens e crianças também podem ser acometidos, e o número de acidentes vasculares em pessoas jovens tem aumentado nos últimos anos. Algumas das causas são atribuídas à prática intensa de atividades físicas combinadas com problemas circulatórios ou cerebrais, ou até mesmo à ocorrência de condições genéticas muitas vezes desconhecidas. Em alguns casos, pode haver dissecção arterial, que ocorre quando uma artéria que vai para o cérebro, como a artéria vertebral, sofre uma ruptura em seu revestimento. Isso pode acontecer espontaneamente ou como resultado de manipulação quiroprática, acidentes, trauma na cabeça ou pescoço. A laceração da artéria pode levar ao bloqueio da artéria ou à formação de um coágulo que pode causar um bloqueio vascular. Outra causa observada nos últimos anos são as consequências da pandemia de COVID-19. Houve um aumento nos casos de AVC que pode estar relacionado à infecção pelo coronavírus como uma consequência a longo prazo. Essa relação ainda está sendo comprovada por meio de pesquisas, mas já existe um grande debate sobre os danos associados à COVID-19 prolongada e o aumento do AVC em pacientes mais jovens.
No caso dos aneurismas sabemos que existem famílias com histórico de aneurismas, mas a ciência não identificou o gene responsável por isso. Em geral, acredita-se que há um fator de risco genético para o desenvolvimento, e, além disso, pode haver diagnósticos secundários como hipertensão.
A área do cérebro onde ocorre o AVC importa?
O tempo de atendimento após a ocorrência de um AVC é crucial para amenizar as consequências do acidente, no entanto o local onde o AVC ocorre pode, sim, influenciar a gravidade da situação. Existem áreas do cérebro que têm menos tolerância a esses tipos de estresse. Por exemplo, um AVC na parte de trás do cérebro, no tronco cerebral, ou na região que conecta o cérebro à medula espinhal, tende a ser mais grave e pode resultar em problemas mais sérios, com maior probabilidade de levar à incapacidade.
Outra consideração importante em relação aos AVCs é o lado do cérebro afetado. A grande maioria dos seres humanos, especialmente os destros, tem o hemisfério esquerdo dominante para a linguagem. Se o AVC ocorrer no lado esquerdo, é mais provável que a fala e a linguagem sejam afetadas em comparação com o lado direito. Assim, um AVC no hemisfério dominante pode ter consequências mais severas para o paciente.
O estilo de vida influencia na prevenção do acidente vascular cerebral (AVC)? Quais exames devemos fazer?
Certamente, um estilo de vida inadequado pode aumentar o risco de AVC. Estudos mostram que a predisposição ao AVC pode variar entre indivíduos, mas aqueles com problemas de saúde, como excesso de peso, hipertensão não controlada, diabetes ou hiperglicemia, têm maior probabilidade de sofrer um AVC. O tabagismo também contribui para esse aumento de risco.
Fatores que elevam o risco de infarto do miocárdio, como problemas nos vasos sanguíneos, também podem aumentar o risco de AVC, que ocorre devido a problemas semelhantes nos vasos do cérebro. Estudos indicam que uma dieta rica em colesterol pode elevar o risco de AVC, enquanto uma alimentação saudável pode ajudar a reduzir a frequência de doenças cardíacas e cerebrais.
Em relação aos exames, é essencial medir e controlar regularmente a pressão arterial, além de realizar análises dos níveis de colesterol e glicose no sangue para descartar diabetes, que também é um fator de risco. Para pacientes de alto risco, exames especializados, como ultrassom das artérias carótidas, podem ser necessários para avaliar o fluxo sanguíneo no cérebro.
Caso haja sintomas neurológicos de início súbito, como fraqueza facial ou alterações na fala, é crucial realizar imagens cerebrais, como ressonância magnética ou tomografia, para identificar possíveis problemas. Além disso, como muitos AVCs estão associados a distúrbios cardíacos, é fundamental verificar a presença de arritmias ou outros problemas de ritmo cardíaco. Um eletrocardiograma pode ser necessário para avaliar a função cardíaca.
Quais são as inovações no tratamento?
Nos últimos anos, o tratamento de AVCs e outras condições neurológicas passou por avanços significativos. Entre as inovações mais importantes está o desenvolvimento de cateteres especializados que permitem a remoção de coágulos diretamente do cérebro. Hoje, é possível em alguns casos acessar os vasos sanguíneos através da artéria femoral na virilha ou da artéria radial no punho para alcançar o cérebro e remover coágulos com maior precisão.Para pacientes com AVC hemorrágico o uso de endoca setores, permitem tratar aneurismas com muito menos invasivo do que as cirurgias tradicionais, como a craniotomia.
Outra inovação promissora é a Estimulação Cerebral Profunda, uma técnica que, apesar de ainda estar em fase de pesquisa para AVCs, já é utilizada no tratamento de condições como Parkinson e epilepsia. Esta abordagem envolve a implantação de eletrodos no cérebro para regular a atividade cerebral e as Interfaces Cérebro-Computador permitem que pessoas com perda de função motora controlem dispositivos externos, como braços robóticos, por meio da atividade cerebral, convertendo sinais cerebrais em comandos para esses dispositivos.
Além disso, a Inteligência Artificial (IA) tem desempenhado um papel crescente na medicina neurológica e cardiovascular. Com a capacidade de processar grandes volumes de dados e imagens clínicas, a IA ajuda a identificar padrões e fazer recomendações precisas que poderiam passar despercebidas por humanos. Por exemplo, algoritmos de machine learning analisam imagens para diagnosticar AVCs rapidamente, determinando a localização e a extensão do problema, permitindo intervenções rápidas e eficazes. Ela também é usada na análise de aneurismas, ajudando a avaliar exames de imagem e identificar quais aneurismas apresentam maior risco de complicações futuras. Isso possibilita uma gestão mais eficaz, decidindo se o tratamento imediato é necessário ou se o aneurisma deve apenas ser monitorado.