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Medicamentos para depressão: uso pode influenciar problemas sexuais e ganho de peso

Efeitos adversos de antidepressivos levam ao abandono do tratamento direcionado à saúde mental. Cuidado multidisciplinar e integrado é palavra de ordem

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), cerca de 300 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão, uma doença que tem sido diagnosticada cada vez mais nos consultórios brasileiros.

É uma condição tratável e, geralmente envolve uma combinação de psicoterapia, mudanças no estilo de vida e uso de antidepressivos para equilibrar os níveis de neurotransmissores no cérebro.

Contudo, o que se observa é que mais de 25% dos pacientes abandonam a medicação em menos de um mês.

Longe de ser um mal exclusivo do século 21, a depressão é um transtorno mental caracterizado por tristeza persistente e perda de interesse em atividades cotidianas, que podem causar mudanças no apetite e no sono, dificuldade de concentração, cansaço e até pensamentos de morte ou suicídio.

Na sociedade moderna, esse estado de saúde é influenciado por diversos fatores, que incluem o ritmo acelerado de vida, a falta de exercícios físicos, o excesso de trabalho e o uso abusivo de redes sociais. Logo, o “tratamento da depressão é soberano” afirma.

Carmita Abdo, psiquiatra, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e fundadora do Programa de Estudos em Sexualidade do Hospital das Clínicas.

Conforme uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) em agosto de 2019, 53% dos indivíduos com idades entre 18 e 24 anos acreditavam que a maioria dos antidepressivos é ineficaz.

Esse senso comum surge da demanda por resultados imediatos, que não ocorre, na maioria das vezes, já que o tratamento se prolonga por vários meses (o próprio medicamento não é efetivo antes de 15 dias).

Ademais, boa parte dos pacientes avessos à medicação se justificam pelo ganho de peso e pela perda de interesse sexual. Dados apresentados pela Carmita no Congresso W2C, realizado em São Paulo, mostraram que a prevalência da obesidade é 2 a 5 vezes mais comum entre pacientes psiquiátricos que recebem tratamento medicamentoso em comparação com a população geral e que até 73% dos tratados com antidepressivos podem sofrer de redução da libido, disfunção erétil e dificuldades para atingir o orgasmo.

Sendo assim, identificar a condição mental, por meio de avaliações clínicas detalhadas realizadas por entrevistas e histórico médico, é crucial para iniciar o tratamento correto e promover a intervenção apropriada, realizados por profissionais experientes.

Essas são medidas que devem garantir aos pacientes a remissão dos sintomas emocionais e físicos, bem como a capacidade de retorno ao trabalho, a restauração de relacionamentos e hobbies pessoais, diz a psiquiatra.

Entre as estratégias para manejo da disfunção sexual induzida por antidepressivos, Carmita reforça o uso de antídotos como a bupropiona, que aumenta a dopamina (neurotransmissor responsável por favorecer a função sexual, agindo no sistema nervoso central), e a buspirona, que regula a serotonina, encarregada de inibir o desejo sexual, a ejaculação e o orgasmo.

Além desses, a médica cita trazodona, moclobemida, vilazodona, vortioxetina, agomelatina e mirtazapina, como fármacos que não afetam a libido.

Já no contexto do ganho de peso, o uso de antidepressivos tricíclicos e de inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) coincide com o acréscimo do Índice de Massa Corporal (IMC) em 15% a 58% dos casos, podendo esse ganho atingir mais de 10% do peso inicial do paciente. Enquanto o tratamento com bupropiona pode levar a uma perda média de 2,8 kg em 6 a 12 meses. O ganho de peso é menor se os hábitos de vida do paciente são saudáveis, destaca Carmita.

Também é importante compreender que há uma relação bidirecional entre obesidade e depressão.

Indivíduos com IMC elevado podem enfrentar estigma, discriminação e baixa autoestima, conduzindo a sintomas depressivos. Por outro lado, problemas emocionais podem influenciar negativamente os hábitos de alimentação e exercício, contribuindo para o excesso de peso. Portanto, depressão e obesidade são condições que exigem uma abordagem multidisciplinar, complementa a Dra. Alessandra Rascovski, médica endocrinologista, diretora médica da Atma Soma e fundadora do Ambulatório Clínico de Obesidade Mórbida do Hospital das Clínicas.

Ainda assim, a especialista ressalta a importância dos pacientes entenderem melhor seu tratamento, estando cientes dos efeitos adversos possíveis, enquanto também se sentem confortáveis em comunicar qualquer sintoma adverso ao seu médico.

Ao seguir as orientações médicas e não interromper abruptamente o uso dos antidepressivos, os pacientes podem esperar uma experiência mais suave durante o tratamento, minimizando os riscos de sintomas de disfunção sexual e ganho de peso, potencializando, assim, a melhora dos sintomas depressivos, finaliza Alessandra.