Texto: Adolpho Queiroz
Piracicaba inaugurou na semana passada a Praça das Bandeiras da Região Metropolitana de Piracicaba, no Parque da Rua do Porto. O primeiro e importante símbolo regional de união entre as cidades que compõem esse novo espaço geopolítico dentro do Estado de São Paulo.
A história do surgimento das bandeiras, como símbolos de Nações, Estados, Países, agremiações esportivas, escolas de samba, exércitos, congregações e festas religiosas, remonta à Idade média, quando os exércitos utilizavam pedaços de pano bordados, para diferenciarem-se dos inimigos e dos aliados. Vexilo era o nome dado aos estandartes utilizados pelos exércitos romanos. E dele derivou-se a “vexiologia”, que trata da sistematização dos estudos sobre estandartes, insígnias e bandeiras, seus usos e convenções. “Vexilógrafos” são as pessoas que desenham e concebem as bandeiras.
As cores da bandeira brasileira, por exemplo, foram escolhidas por Dom Pedro, e o desenho da bandeira foi obra do pintor francês Jean-Baptiste Debret. A inspiração do pintor francês foram bandeiras utilizadas por tropas militares francesas durante o período da Revolução Francesa e do período napoleônico. O Brasil já teve 13 bandeiras, a cada mudança que acontecia, um novo símbolo nacional era criado. Em 1815, por exemplo, quando o país deixou de ser colônia de Portugal, adotou a bandeira do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve. As bandeiras representam simbolicamente a soberania das nações mundiais, refletindo as suas respectivas origens, valores, história e outras características. Cada país determina, por lei, os detalhes do protocolo oficial que rege o modo como a bandeira deve ser tratada.
“Há muita semiótica escondida no uso das bandeiras que age sobre o inconsciente. Triunfam porque com certeza provocam grandes emoções em muitos países. Quando a identidade está em perigo, a pessoa se apoia na bandeira”, explica José Enrique Ruiz-Domènec, professor de história na Universidade Autônoma de Barcelona e autor, entre outros, do ensaio de referência Europa. Las claves de su historia (RBA). José Manuel Erbez, bibliotecário da Universidade de La Laguna e secretário da Sociedade Espanhola de Vexilologia (a ciência que estuda as bandeiras), por sua vez, explica que “no final do século XVIII e início do XIX surge a necessidade de identificar a nação com um símbolo, e dessa forma surge a enorme carga simbólica das bandeiras”. “Antes tinham mais a função de identificar objetos e comunidades com o rei, como indicar o barco do monarca”, prossegue. “Quando a bandeira passa a identificar uma coletividade ela começa a ter uma carga simbólica mais forte e mais emocional. As pessoas continuam precisando se identificar com um grupo, e a bandeira é um símbolo enorme: é uma forma simples de expressar uma ideia muito complexa.”
A bandeira oficial de Piracicaba foi instituída na administração do prefeito Samuel de Castro Neves, através da lei n381, de 2 de outubro de 1953. A bandeira é simples: “o seu campo será em verde veronense, tendo no seu centro o brasão de armas abrangido por um círculo branco”. Aquela lei obriga – e isso não foi cumprido muitas vezes – que a bandeira será de uso obrigatório nas repartições municipais quando de feriados nacionais, estaduais e locais. O brasão de armas, previsto naquela lei, foi alterado por lei posterior, na administração de Luciano Guidotti.
A cor representa um dos dons do Espírito Santo, a Fortaleza, e também o fogo alusivo à forma pela qual o Espírito Santo se manifestou aos apóstolos e à Virgem Maria no cenáculo. O vermelho é também o tom oficial das bandeiras dos devotos, que é um dos símbolos do evento. No período entre a Páscoa e Pentecostes a Bandeira do Divino vai ao encontro dos paroquianos. Ela é um símbolo sagrado que representa o Espírito Santo para seus devotos. Retangular, de cor vermelha, em lembrança às línguas de fogo do relato bíblico, apresenta um desenho de uma pomba ao centro. O Dia da bandeira do Divino é celebrado na véspera do Domingo de Pentecostes é realizada uma grande procissão e a ascensão do mastro com a Bandeira do Divino. Em muitas cidades, esta cerimônia é marcada com queima de fogos de artifícios.
Também temos outra bandeira histórica em nossa cidade, a do Esporte Clube XV de Novembro, fundado em 1913, presente no estádio Barão de Serra Negra em dias de jogos e hasteada até na praça das bandeiras da federação Paulista, quando o clube disputa a divisão principal do campeonato paulista. Além dela, as torcidas organizas do clube, a AR XV, Esquadrão e Super Raça também posicionam suas bandeiras em dias de jogos em nossa cidade e mesmo em confrontos fora daqui. E a bandeira do XV de Piracicaba apareceu durante a transmissão de um jogo entre Arsenal x Wolvesm, na Inglaterra, certamente levada por algum piracicabano presente na ocasião.
Por fim, gostaria de registra que a história da Praça das Bandeiras da RPM nasceu de uma vista que fiz, quando era Secretário de Cultura, ao lado da Bete Bortolin e seu filho Vithor, a cidade de Santos e deparei-me com a praça das bandeiras brasileiras ao largo de uma das praias famosas de lá. Na volta a Piracicaba comentei com a Bete sobre a possibilidade de fazermos uma em Piracicaba, e ela adorou a ideia. Dias depois estava eu já começando a conversar com o ex-secretário de administração, Dorival Maistro sobre os procedimentos administrativos e ele me orientou. Depois conversei com o secretário do Meio Ambiente, Alex Salvaia, responsável pelo Parque da Rua do Porto que também acatou a ideia de implantar o marco naquele local. Só então comentei o assunto com o prefeito Luciano Almeida. E começamos a fazer os contatos preliminares. Do Maistro recebemos as bandeiras de Piracicaba, São Paulo e Brasil. Do prefeito de Santa Maria da Serra, Josias Zani Neto, recebemos a primeira das bandeiras da região.
Com a inauguração ocorrida, creio ter deixado mais uma contribuição à cultura de Piracicaba e região.