Polêmica envolvendo o ator Caio Castro fomentou reflexões e cuidados para que o encontro proporcione apenas energias positivas
O ator Caio Castro, depois da sua participação no podcast “Sua Brother”, no final do mês de julho, virou um dos nomes mais comentados no Brasil. Isso porque, na entrevista, o artista deixou claro que não se sente à vontade quando é obrigado a desembolsar a quantia do preço do jantar quando está em um encontro, mas que faz com prazer “essa gentileza” em certas ocasiões. O assunto virou febre no Brasil, principalmente pela linha tênue existente entre machismo e cavalheirismo que a ideia de dever do homem de pagar a conta cria.
Como lidar com a situação?
De acordo com Maicon Paiva, especialista em relacionamentos, não existe uma obrigatoriedade por gênero e o casal pode criar acordos para que a situação não seja constrangedora para ambos.
É claro que existe um contexto para que muitas pessoas na sociedade deem a obrigatoriedade ao homem de pagar a conta no encontro, mas no mundo moderno e em que vivemos e com o enorme movimento de afirmação das mulheres, sobretudo para combater a narrativa de que devem dar algo em troca pelo fato do homem ter pagado a conta sozinho, a regra acabou ganhando uma elasticidade em que o diálogo se apresenta como protagonista”, afirma o especialista.
Um estudo realizado pelo aplicativo de encontros amorosos Badoo, em 2018, ouviu mulheres da Inglaterra a respeito do pagamento de contas. Das ouvidas, 65% preferem pagar tudo, e 35% delas preferem que o homem pague. Outra pesquisa britânica, um pouco mais antiga, realizada em 2015, encomendada pela empresa financeira Friday Friday, diz que 29% dos homens jamais deixam a mulher pagar a conta no primeiro encontro.
É importante acabar com a “lei da compensação”
“Não dá pra deixar de considerar a cultura machista, principalmente porque a independência financeira feminina é algo relativamente recente na nossa sociedade
A ideia de que a mulher é dependente do homem e que ela precisa ser ‘bancada’ por ele ainda possui muita força, sobretudo em ideologias mais conservadoras e, diante do contexto abordado, querer dividir a conta é um desejo totalmente legítimo”, continua Paiva.
O encontro não precisa acabar em um conflito, pois há outras possibilidades. Há quem veja o ato do homem pagar a conta como cavalheirismo, sobretudo no primeiro encontro, mas é preciso entender que isso não é mais uma regra e que alinhar as expectativas em relação a isso é a melhor alternativa para evitar frustrações e constrangimento, e isso vale para todo e qualquer tipo de relação amorosa e/ou afetiva.
Sempre proponho dividir a conta quando eu vou a um encontro, até porque ainda estou conhecendo a pessoa e ainda não sei a forma de pensar sobre ela. E dividir a conta não faz com que eu a veja sendo mesquinha ou algo do tipo. Claro, se a pessoa faz questão de pagar a conta, eu deixo ela a vontade, mas mostro também que não é nenhum problema rachar o que foi consumido. Não me oponho a dividir ou a pagar, pois acho que não há obrigações quanto a isso”, disse a gerente administrativa Thalissa Franco, de 25 anos.
O que fazer para evitar um climão?
O sentimento pode variar de acordo com cada pessoa. Se ele fizer questão de pagar a conta primeiro, isso não significa, necessariamente, que ele seja uma pessoa machista. E se não se sentir incomodada com a situação, você pode propor pagar na próxima vez. Caso contrário, pode comentar que se divertiu igualmente e, portanto, nada mais justo que dividir a conta. É importante entender que um ato de gentileza pode ser feito por todos e para todos, sem diferenciação por gênero.
Quando se trata de uma relação amorosa já estabilizada, o ideal é que haja acordos entre as partes e que consigam construir uma parceria que possibilite a análise financeira de cada um. O fato do homem pagar pode e deve ser normalizado também quando se trata da mulher que, por sua vez, também pode pagar a conta e isso não é nenhum problema. Se o casal possui acordos financeiros diferentes, não há problema desde que seja algo confortável para os dois”, conclui Paiva.