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⭐ Piracicaba, 19 de abril de 2025 ⭐

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Correspondência à Câmara denota primórdios do racismo estrutural local

Iluminação Pública - Arquivo Câmara Municipal de Piracicaba

Na Piracicaba de 1882 o pedido do comerciante Antônio José era para mais iluminação onde escravos e outras pessoas de baixa qualidade promoviam “algazarras” em público

Tida como uma das primeiras cidades brasileiras a ter luz elétrica, seguida por Campos dos Goytacazes, segunda maior cidade do Estado do Rio de Janeiro, depois da Capital, fatos observados na então Piracicaba do século 19, demonstram o quanto o racismo estrutural já permeava nas relações humanas, especialmente em setores dominantes da sociedade, em plena época do Brasil Imperial, no ápice do sistema escravagista, tendo como principal foco o elemento negro, no aprisionamento de africanos livres que foram escravizados pelo mundo, sob o jugo de pesados grilhões e chicotes, em mão de obra a que as cidades recorreram para iniciar suas formações.

Na série Achados do Arquivo, da sexta-feira (4) a reflexão é sobre aglomerações que se verificavam em Piracicaba, ao longo do ribeirão Itapeva, atualmente canalizado, sob a avenida Armando de Salles Oliveira, região central da cidade, especialmente no entroncamento com a rua Moraes Barros, que na época era denominada de rua Direita.

Carta

Em 21 de julho de 1882, conforme correspondência encaminhada à Câmara Municipal de Piracicaba, assinada por Antônio José da Costa Azevedo, que era proprietário de um armazém, localizado na rua Direita, próximo à ponte do Itapeva, no qual o comerciante protestava contra “algazarras imorais”, junto a um chafariz, nas proximidades de seu estabelecimento. O pedido era para colocação, por conta da municipalidade, de “mais um combustor, igual aos que iluminavam a cidade”, para que não mais houvessem as “aglomerações de escravos e outras pessoas de baixa qualidade”, relatou.

Observa-se que o documento, por um lado demonstra como a iluminação já era considerada no final do século XIX, uma questão de segurança pública e, por outro lado, demonstra o tratamento desumanizado aplicado a escravos e outras pessoas marginalizadas pela sociedade da época.

Iluminação

Foi Luiz Vicente de Souza Queiroz – idealizador da Escola Agrícola Prática de Piracicaba, inaugurada em 1901, que se tornaria a Esalq (Escola Superior de Agricultura – USP), que também teve participação direta em marcos referenciais como o abastecimento de água encanada e a implantação da telefonia em Piracicaba, quem trouxe a energia elétrica para a cidade, respaldado pelas descobertas da lâmpada incandescente por Thomas Alva Edison (1879), o que foi fundamental na decisão de trocar o lampião de gás pela iluminação elétrica na cidade, no dia 6 de setembro de 1893. E, do invento de Graham Bell, que repercutiu localmente no dia 22 de novembro de 1882, na implantação do sistema de telefonia.

Iluminação Pública - Arquivo Câmara Municipal de Piracicaba

Iluminação Pública - Arquivo Câmara Municipal de Piracicaba

Assim, Piracicaba tornava-se a segunda cidade brasileira, fora as capitais, a ter iluminação elétrica. A primeira foi Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, em 1883. Quatro anos depois, em 1887, Porto Alegre (RS) se tornou a primeira capital brasileira, a contar com um sistema de iluminação pública elétrica, seguida por São Paulo, em 1889.

A implantação de energia elétrica no Brasil Imperial ocorreu na era de Dom Pedro II, no ano 1883.

Iluminação noturna

Antes e após a chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, os indígenas já utilizavam a luz do fogo (fogueiras) e a claridade da lua como forma de iluminar suas noites. Não há registro de outra forma de iluminação usada na época. Os portugueses trouxeram consigo as formas de iluminação utilizadas na Europa, como a lamparina à base de óleos vegetais ou animal. O óleo de oliva era um dos mais utilizados, mas era fabricado somente na Europa, por isso tinha altos custos, somente uma elite nobre o utilizava.

Com o alto custo do óleo de oliva, rapidamente ele foi substituído por outros óleos fabricados no Brasil, como o óleo de coco e o de mamona. Posteriormente, foram produzidos os óleos derivados de gordura animal (principalmente peixes) e fabricadas velas feitas de gorduras e de cera de abelha (produtos que não eram utilizados nas residências da população pobre), em razão do alto preço.

Até o século XVIII, não existia iluminação pública – nos momentos de festas e comemorações, a população iluminava as fachadas das casas com as velas feitas de sebo e gordura. No século XIX, algumas cidades brasileiras passaram a ser iluminadas com lâmpadas de óleo de baleia.

Em São Paulo, a utilização de óleos como iluminação pública chegou somente no ano de 1830. Eram necessários funcionários que acendessem diariamente as luzes nas ruas das cidades. No ano de 1854, São Paulo foi a primeira cidade brasileira a implantar a iluminação a gás – esse serviço ficou na cidade até meados de 1936, quando foram apagados os derradeiros lampiões.

A cidade de Campos, no Rio de Janeiro, foi a primeira cidade a ter luz elétrica nas ruas, em virtude da presença de uma usina termoelétrica, desde 1883. Rio Claro, em São Paulo, foi a segunda cidade a ter luz elétrica nas ruas, também em razão da presença de uma termoelétrica. A cidade do Rio de Janeiro somente implantou o serviço de luz elétrica nas ruas no ano de 1904; e São Paulo, no ano posterior, em 1905.

A iluminação pública foi importantíssima para as cidades, em virtude da urbanização e dos problemas gerados por esse crescimento, como a falta de infraestrutura nas cidades, a exemplo de esgoto e água tratada. Atualmente, a falta de iluminação pública nas ruas contribui bastante para a prática de crimes, agravando os problemas de segurança ao cidadão.

Lampião

O lampião mais antigo de que se tem notícia era feito à base de argila. Posteriormente de metal, iluminado por vela ou querosene. Com o passar dos anos e várias tentativas, descobriu-se que ele poderia ser aceso por gás; pois até então era usado óleo de gordura animal. A chama do fogo, produzida por óleo, querosene ou gás, ficava protegida por um tubo de vidro; que garantia a circulação do ar dentro do tubo, fazendo a chama ficar mais brilhante e com maior poder de iluminação.

Piracicaba

A primeira iluminação pública de Piracicaba foi com lampião de querosene. A inauguração deu-se no dia 14 de fevereiro de 1874. Os primeiros postes se localizavam nas esquinas do centro da cidade e um funcionário era responsável por colocar o combustível e acender os pavios. A iluminação ia até as 22h. Um ano antes, em 23 de fevereiro de 1873, o vereador Eulálio da Costa Carvalho pedira, ao Governo Provincial, que cedesse 50 dos lampiões que serviam à iluminação da cidade de São Paulo.

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