Em diversos lugares do Brasil, municípios e estados instituíram o Agosto Lilás, como o mês de proteção à mulher a fim de conscientizar a população pelo fim da violência contra a mulher. Projeto de lei tramita no Senado para que a conscientização seja estendida em âmbito nacional no mês em que a Lei Maria da Penha passou a vigorar, há 15 anos.
Para marcar esta data, o governo federal sancionou, em 29 de julho, lei que inclui no Código Penal o crime de violência psicológica contra a mulher. Mas o que pode caracterizar a violência psicológica?
Mariana Mantovani Carlos (foto), psicóloga hospialar da Medical, uma empresa do Sistema Hapvida, começa explicando que, primeiro, é preciso compreender a cultura da sociedade, que reflete diretamente nos relacionamentos. “Antigamente, era comum a mulher ser submissa ao marido. Nos dias de hoje, há mulheres que se sentem muito culpadas em buscar ajuda, de tentar sair de um relacionamento, com medo de serem julgadas pela sociedade e, muitas vezes, se sentem fracassadas. Acredito que todo esse contexto pesa no momento da decisão de uma mulher buscar ajuda ou perceber que ela vive uma violência psicológica”.
Neste tipo de relacionamento, a psicóloga explica que o companheiro chega de forma sutil, encanta, se envolve na vida e na rede de apoio da mulher, busca saber de todas as qualidades para, num segundo momento, utilizar todas estas informações para manipulação psicológica. A vítima começa a se afastar das pessoas próximas e da família. Ela começa a perceber que os amigos não estão mais por perto porque o agressor vai colocá-la contra as pessoas que a fortalecem.
Mariana explica que nem sempre o abusador toma essas atitudes de propósito, porque quer o mal da vítima. Muitas vezes, as ações são reflexo do que ele aprendeu; por eventualmente ter crescido em ambiente de abuso e, muitas vezes, lança as frustrações dele em outra pessoa, diminuindo-a para se fortalecer.
Neste momento, a mulher pode não perceber porque pode estar na fase do encantamento e o abusador pode levar a sensação de segurança, de preocupação com ela. Então, ela pode buscar alternativas para não sair do relacionamento.
Da mesma forma que o abusador diz que a mulher não serve para nada, também diz que é o único que estará do lado dela e, desta forma, ele vai descaracterizando-a, deixando-a suscetível, vulnerável”. O agressor controla as atitudes da mulher.
A psicóloga explica que é a partir do momento que a mulher começa a perceber que ela perdeu a autonomia, que ela saiu do emprego que gostava, que não foca mais em si, deixa de usar roupas que das quais gostava; se afasta dos amigos e família; sente frequentemente tristeza e frustração, buscando sempre agradar o companheiro, sabendo que se algo sair errado, ele vai culpá-la e inferiorizá-la.
A culpa
A vítima se sente culpada pelos erros do companheiro, explica a psicóloga. Quando a vítima está vulnerável, ela vai acreditar que a culpa por determinada situação é dela, e não dele; que ela precisa mudar, e não ele.
“Quando a vítima percebe que não está sendo mais prazeroso, possivelmente esta é a hora da busca de ajuda. Dificilmente quando se inicia o processo de violência psicológica, a vítima já busca auxílio. Ou vai tentar sair do relacionamento. Ela sempre vai buscar compreensão. Infelizmente, normalmente a vítima só vai buscar ajuda quando chegar no momento de exaustão emocional, de não saber mais quem ela é”.
A importância das divulgações
De acordo com a psicóloga, se a mulher já tem conhecimento sobre como se inicia a violência psicológica, se ela já tem um repertório que aponta que determinada situação no relacionamento é errada, pode não deixar chegar num ponto tão insalubre do relacionamento. “Esta é a importância das discussões, de trazer conhecimento”.
Entender pode evitar que muitas cheguem ao final de um relacionamento abusivo com depressão, ou até com pensamentos suicidas, ou mortas pelo agressor. “Que bom será se esta mulher vítima se sentir acolhida antes de chegar num ponto tão cruel de um relacionamento abusivo”.
Reflexo nos filhos
Mariana diz que a violência psicológica pode deixar marcas emocionais irreversíveis até mesmo dos filhos que eventualmente o casal possa ter. Por isso, a importância da quebra de comportamento e de aceitação pela sociedade na busca por valores e respeito de todos.
Da mesma forma, Mariana diz que quando os filhos veem na mãe a luta para busca de ajuda, que passa a contar com rede de apoio e colocou um basta na violência e abusos psicológicos, terão um exemplo para a vida.
A orientação da psicóloga é: “busque ajuda. Vocês não estão sozinhas. Busque a rede de apoio de vocês. Busque um psicólogo. Não é fácil, mas existe luz ao final do túnel. Todos merecem ser felizes. Não precisamos de outra pessoa para ser feliz. Todos podem ser felizes sozinhos. Quando estiver pronta para um relacionamento, o outro tem que agregar e não completar”.