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⭐ Piracicaba, 6 de junho de 2025 ⭐

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Papanicolau será substituído no SUS pelo teste de DNA-HPV

PAPANICOLAU

A mudança foi justificada pela maior sensibilidade do novo exame

Cada vez mais as pessoas são infectadas pelo vírus HPV (papilomavírus humano) em algum momento da vida. Em grande parte dos casos, o próprio sistema imunológico elimina o vírus do organismo espontaneamente. No entanto, em alguns deles, o HPV pode provocar o crescimento de células anormais, evoluindo de uma lesão pré-cancerígena para um câncer.

O teste citopatológico para a detecção do HPV, popularmente conhecido como papanicolau, será gradualmente substituído, no Sistema Único de Saúde, pelo exame molecular de DNA-HPV.

A mudança foi justificada pela maior sensibilidade do novo exame, que também permitirá aumentar o intervalo entre as coletas para cinco anos, caso não haja diagnóstico do vírus.

Mas, como será o “novo Papanicolau”? Para esclarecer as vantagens do novo exame, faixa- etária, contraindicações, vacina e demais dúvidas, consultamos a Dra. Débora Baldacin Hong, ginecologista desde 2012, titulada na área de Patologia do trato genital inferior e Colposcopia pela ABPTGI em 2017. Débora atende em clínica particular em Piracicaba e é Coordenadora da Ginecologia e Obstetrícia do Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba.

O SUS (Sistema Único de Saúde) substituirá gradualmente, a partir deste ano, o exame papanicolau pelo teste molecular de DNA-HPV para o rastreamento de câncer do colo do útero. A que se atribui essa mudança?

O câncer do colo do útero representa o terceiro câncer mais incidente em mulheres no Brasil.

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que a taxa bruta de incidência no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025 seja de 15,38 casos a cada 100.000 mulheres.

Fazendo uma análise regional, no Norte e Nordeste (17,59/100 mil) ocupa o segundo lugar em incidência e o terceiro no Centro-Oeste (16,66/100 mil). Já na região Sul (14,55/100 mil) ocupa a quarta posição e, na região Sudeste (12,93/100 mil), a quinta posição (INCA, 2022). Infelizmente, muitos dos casos têm sido diagnosticados já com a doença localmente avançada ou metastática.

Graças a essa proporção, se faz necessário constante atualização dos meios de saúde nas ações de controle através da prevenção primária por meio da vacinação, e secundária pelo diagnóstico precoce das lesões precursoras, que são curáveis.

Os dados dos estudos para prevenção do câncer de colo de útero utilizando o teste de DNA-HPV são promissores, no entanto, estender para as mulheres vulneráveis e de difícil acesso é essencial para que se alcance um real ganho com tal mudança.

No Brasil, um programa de rastreamento organizado baseado na detecção de testes de DNA-HPV oncogênico instituído em Idaiatuba (SP) diagnosticou proporcionalmente quatro vezes mais neoplasia intraepitelial cervical grau 2 ou mais grave (NIC2+) e 1,5 vezes mais cânceres numa primeira etapa do que a citologia no período anterior, em que se usava a citologia – Papanicolau. Dos casos de doença invasiva, 87% foram detectados no estágio FIGO I, em oposição a 67% em estágios avançados detectados no período imediatamente anterior – Dados do artigo – Teixeira JC, Vale DB, Campos CS, Polegatto I, Bragança JF, Discacciati MG, et al. Transition from opportunistic cytological to organized screening program with DNA-HPV testing detected prevalent cervical cancers 10 years in advance. Sci Rep. 2024;14:20761

Como será o “novo Papanicolau”?

O novo teste poderá ser coletado por profissional de saúde – médico(a), enfermeiro(a) da mesma forma que a coleta antiga, ou mesmo pela paciente, em sistema de autocoleta, que já foi comprovado eficaz para a detecção do vírus HPV oncogênico. A coleta será feita por raspado com escova ou swab no fundo vaginal em meio líquido.

A vantagem da coleta pelo profissional da saúde é que, na mesma amostra, em caso de HPV oncogênico positivo pode ser necessário a citologia reflexa, ou seja, fazer o teste de Papanicolau na amostra já coletada para avaliar a necessidade de um novo exame complementar, a Colposcopia. Se isso ocorrer na autocoleta, a paciente deverá ser convocada para coleta de nova citologia -Papanicolau.

Quais são as vantagens do teste molecular de DNA-HPV?

O teste de DNA-HPV mostrou-se mais eficaz no diagnóstico de lesões precursoras ao câncer de colo, oferecendo maior proteção contra carcinomas cervicais invasivos em comparação a citologia (Papanicolau) durante o seguimento em vários estudos, além disso, mostrou-se superior também por diminuir mais significativamente mortalidade por câncer de colo. Isso porque o teste é mais sensível à detecção de lesões. Tem ainda a vantagem de segurança em 5 anos de intervalo no caso de teste negativo.

A faixa-etária para o exame de rastreio permanece a mesma: de 25 a 64 anos?

O início do rastreio pode ser feito a partir de 25 anos com o novo teste, porém a forte recomendação é para mulheres a partir de 30 anos. O final do rastreio será mantido na idade de 64 anos para mulheres imunocompetentes e sem história prévia de lesões precursoras do colo de útero, que deverão estender o rastreio até 25 anos após o tratamento.

Quando não houver diagnóstico do vírus, o intervalo entre as coletas passará a ser de cinco anos.

Exatamente. Sendo negativo o rastreio só deve ser repetido após 5 anos. É importante ressaltar, no entanto, que nenhum teste é 100% eficaz, portanto, não dispensa as visitas anuais ao ginecologista para exame clínico e prevenção dessa e demais patologias.

Existem contraindicações?

Não existe contraindicações ao teste e deve-se seguir a recomendação da coleta atual – evitar relação sexual e não usar cremes e pomadas vaginais 2 dias antes, não estar no período menstrual ou apresentando sangramento vaginal.

Qual a importância da vacina?

A vacina contra o câncer de colo de útero está disponível na rede básica de saúde e deve ser incentivada aos meninos e meninas adolescentes. Já temos evidência de que a vacina na faixa etária anterior à exposição sexual tem alta eficácia em reduzir drasticamente o câncer cervical, em especial as formas mais agressivas causadas pelos subtipos HPV 16 e 18.

No caso de HPV positivo para 16 ou 18 as pacientes deverão ser encaminhadas diretamente para o exame de Colposcopia, que através de visão ampliada e com auxílio de reagentes identifica local de biópsia para deteção de lesões precoces. Nos casos de HPV positivo para outros tipos que não sejam o 16 e 18, a citologia reflexa deverá ser realizada e, se alterada, determinará o exame de Colposcopia. Nas pacientes com DNA-HPV positivo o próximo rastreio deverá ocorrer em 1 ano até o teste negativar.

Foto: Divulgação

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