Ex-presidente do Uruguai, símbolo da esquerda latino-americana, enfrentava câncer e optou por cuidados paliativos ao lado da esposa

O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica faleceu nesta terça-feira (13), aos 89 anos, em sua residência na zona rural da capital uruguaia. O falecimento foi confirmado oficialmente pelo atual presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, em comunicado publicado nas redes sociais.

Mujica era uma das figuras mais respeitadas da política latino-americana, conhecido tanto por seu passado como guerrilheiro quanto por seu estilo de vida austero e suas posições políticas firmes. Durante décadas, esteve entre os principais nomes da esquerda no continente, sendo admirado por apoiadores e respeitado por adversários.

Trajetória 
Nos anos 1960, Mujica foi integrante do movimento guerrilheiro Tupamaros, que combatia a ditadura militar uruguaia. Preso em 1972, passou mais de 13 anos encarcerado, muitos deles em condições precárias e de isolamento. Após a redemocratização, retomou a vida política, sendo eleito deputado e posteriormente senador. Entre 2005 e 2008, foi ministro da Agricultura.

Foi eleito presidente do Uruguai em 2010, permanecendo no cargo até 2015. Em seu governo, liderou importantes reformas sociais, como a legalização da maconha, do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo — medidas que colocaram o Uruguai na vanguarda das políticas progressistas na América Latina.

Mujica também ficou conhecido internacionalmente por abrir mão das regalias do cargo, morar em uma chácara modesta com a esposa, Lucía Topolansky, e doar a maior parte de seu salário para causas sociais. Costumava dizer que “quem luta pelo amor à vida não precisa de muito para viver”.

Enfrentamento da doença
Em abril de 2024, Mujica anunciou publicamente ter sido diagnosticado com um câncer de esôfago, agravado por uma condição autoimune que comprometia seus rins. Após tratamento com radioterapia, o câncer atingiu também o fígado. Em janeiro deste ano, informou que não daria continuidade a intervenções médicas, preferindo os cuidados paliativos em casa.

Em uma de suas últimas aparições públicas, no encerramento da campanha presidencial de Yamandú Orsi, Mujica agradeceu ao povo uruguaio e afirmou: “O guerreiro tem direito ao descanso”.